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Ana Beatriz Prudente Alckmin

  • Foto do escritor: Mulheres Positivas
    Mulheres Positivas
  • há 2 dias
  • 9 min de leitura

Nossa Mulher Positiva é Ana Beatriz Prudente Alckmin, filantropa, educadora de inovação, pedagoga pela USP e autora do livro Ela, sua gata e Tel Aviv. Ana nos conta seu caminho de amor pela escrita, demonstra sua sensibilidade ao humanizar a cultura organizacional, e como se tornou uma referência em elegância.


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1. Como começou a sua carreira?

Minha carreira como escritora começou ainda no ensino médio, quando minhas redações e citações chamavam a atenção na escola. Com o tempo, migrei para a escrita corporativa, apoiando executivos na construção de branding, no desenvolvimento de statements e de textos de posicionamento. A partir daí, evoluí para articulista e colunista em sites e revistas, escrevendo sobre temas que sempre estiveram presentes na minha trajetória: sustentabilidade, tecnologia e inovação.


O universo da inovação me acompanha há muitos anos. No início, fui mentorada por Victor Megido, que me apresentou a esse campo, mas segui aprofundando o caminho por conta própria, estudando, lendo e me envolvendo com diferentes experiências. Essa dedicação me levou a me consolidar como educadora de sustentabilidade e inovação, apoiando grandes organizações do terceiro setor, executivos e empresários que buscam entender como aplicar tecnologias emergentes e a cultura de inovação em seus contextos.


Ao longo dessa trajetória, passei a adotar o design thinking como uma das principais ferramentas do meu trabalho. O design thinking é uma abordagem criativa de resolução de problemas que parte da empatia, ou seja, da escuta profunda das pessoas envolvidas, para gerar ideias, prototipar soluções e testar caminhos de forma colaborativa. Ele me permite pensar de maneira estruturada, mas sem engessar, unindo inovação, criatividade e foco real nas necessidades humanas.


Acredito que a respeitabilidade na minha área foi construída tijolo por tijolo, em um processo contínuo acompanhado por muitas pessoas que validaram essa caminhada. Hoje vejo que meu papel como educadora é compartilhar conhecimento, fortalecer a cultura de inovação e mostrar como ferramentas como o design thinking podem transformar instituições e profissionais, mantendo sempre o compromisso com a sustentabilidade e a ética. Agora, inauguro uma nova fase da minha carreira, como romancista. Como pedagoga formada pela Universidade de São Paulo, aprendi que a educação não precisa acontecer exclusivamente dentro da sala de aula. A educação também acontece em espaços não formais e, quando um jovem ou mesmo um adulto pega um livro para ler, viaja naquela história, mergulha no romance e encontra ali a possibilidade de instigar reflexões.


2. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?

Minha vida sempre foi marcada por interações sociais com elegância, em ambientes saudáveis e familiares. Filha de acadêmicos e cientistas, cresci observando dois mundos complementares: minha mãe, também ancorada no universo político, e meu pai, um cientista que sempre transitou com naturalidade tanto no meio empresarial quanto no político. Desde adolescente, acompanhei meus pais organizando coquetéis, jantares e brunches, porque acreditavam que o mundo acadêmico não pode estar fechado em si mesmo, mas precisa dialogar com diferentes espaços da sociedade. Esses encontros eram momentos para promover a construção de pontes, e eu adorava estar nos bastidores, ajudando na escolha da louça e do cardápio.


Em casa, tínhamos uma governanta, a dona Sueli, que coordenava a logística desses eventos com tamanha competência que, depois de anos conosco, foi trabalhar em Portugal organizando eventos. Eu, ainda criança, ficava grudada nela, fascinada por todo o processo de organização. Foi nesse contexto que aprendi cedo o valor das conexões sociais genuínas. Para mim, o verdadeiro networking nasce quando pessoas se aproximam não apenas por interesses econômicos, mas sobretudo quando compartilham valores humanos. E o que entendo por valores humanos são aqueles princípios que estão acima das diferenças ideológicas: respeito, ética, solidariedade, honestidade e empatia. São valores que permitem que pessoas de universos distintos conversem, cooperem e construam juntas, mesmo quando não pensam igual em tudo.


Embora eu seja uma pessoa reservada, dentro da minha bolha sempre construí pontes. Mediava desentendimentos entre amigas, conectava pessoas a investidores ou a profissionais parceiros de negócios, fortalecendo relações que levavam a novos projetos. Sempre valorizei relações sérias e saudáveis, pautadas pelo respeito. Tanto que, ao me casar, deixei claro para meu marido que continuaria organizando eventos sociais, como almoços, jantares e coquetéis, para reunir pessoas.


Quando entrei no terceiro setor como educadora e criadora de projetos, levei comigo essa experiência e esse olhar para o valor das conexões humanas. Foi nesse contexto que vivi uma experiência isolada, mas marcante, que anos depois influenciaria diretamente a forma como eu atuo profissionalmente. Em uma das organizações, conheci uma gestora com quem deveria trabalhar em parceria. Minha função era apresentar ideias e conexões, e a dela seria adaptar essas propostas à realidade institucional. No entanto, em vez de construirmos juntas, vivi episódios de violência moral e simbólica.


Ela não se conformava com o fato de eu ter os contatos que tinha, acreditando que, por ela possuir um currículo acadêmico brilhante, era ela quem deveria ocupar esse espaço de conexões. Como não os tinha, reagia com raiva, tentando me humilhar com comentários desagradáveis, invalidando minhas conquistas em reuniões e criando um ambiente hostil. Foi doloroso perceber que essa postura vinha de outra mulher, já que sempre acreditei na sororidade e na construção de vínculos femininos. Não levei o caso adiante juridicamente, porque priorizei me curar dessa violência, mas a experiência me marcou profundamente.


Eu agia como uma profissional com trajetória consistente, mas parecia que, aos olhos dela, o fato de não conseguir ocupar alguns espaços era uma frustração que transbordava em ataques. O que poderia ter sido uma oportunidade de parceria se transformou em um episódio de desrespeito, algo inédito para mim, já que sempre fui muito bem tratada nos ambientes por onde circulei.


Hoje, como educadora atuando no mundo corporativo, levo essa experiência como lição: é essencial que os propósitos da instituição e o papel de cada pessoa estejam claros, para que o ambiente não se torne tóxico. A saúde das relações entre colaboradores sustenta a própria instituição, pois só em um clima de respeito floresce a colaboração criativa, indispensável em qualquer organização. Instituições que não valorizam as boas relações acabam comprometendo seu próprio crescimento.


Essa vivência me mostrou que fortalecer relações humanas é também um ato de inovação e sustentabilidade. Anos depois, essa situação vivida me inspiraria a escrever o artigo “Escutar para Inovar”, um dos meus mais lidos, que abriu portas para que eu fosse convidada a compartilhar minhas reflexões em diversas organizações.


3. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora?Atualmente, minha atuação está profundamente alinhada ao setor social, onde desempenho atividades voluntárias e de benfeitoria em organizações que compartilham dos meus valores e propósitos. Tenho me dedicado a integrar tecnologias emergentes na cultura de instituições do terceiro setor, reconhecendo que cada organização possui características únicas que influenciam a forma como essas inovações podem ser incorporadas. A inovação, nesse contexto, não é apenas uma adaptação tecnológica, mas um processo contínuo de reinvenção que deve respeitar e fortalecer a missão e os valores fundamentais da instituição.


Esse compromisso com a transformação social está enraizado na minha identidade como mulher judia. No judaísmo, o conceito de tzedakah representa a justiça social, e a busca por tikkun olam (reparar o mundo) é uma responsabilidade coletiva. Esses princípios orientam minhas ações e reforçam a importância de contribuir para um mundo mais justo e equitativo.


Essas atividades fluem naturalmente em minha vida pessoal, pois foram cultivadas desde a minha formação em uma família que valoriza a justiça social e os direitos humanos. A educação sempre foi uma missão para mim, e neste momento, educar para a inovação é fundamental. Como destaquei em meu artigo “Inovação na Modernidade Líquida”, a inovação deixou de ser um diferencial e passou a ser uma exigência, não apenas no mercado corporativo, mas também no terceiro setor. É necessário que as organizações se reinventem continuamente, mantendo seus valores e missão, para que possam prosperar em tempos de mudanças rápidas e constantes.


Essa abordagem não apenas fortalece as instituições, mas também promove um ambiente saudável e colaborativo, essencial para o florescimento da inovação e da sustentabilidade. Assim, minha jornada como educadora e voluntária reflete meu compromisso com a transformação social, a inovação ética e a construção de um mundo melhor para todos.


4. Qual seu maior sonho?

No ano passado, fui convidada pela diretoria de uma escola pública do estado de São Paulo, junto com uma professora da instituição, para palestrar aos alunos sobre como a sustentabilidade pode ser integrada na cultura de inovação. Foi uma experiência incrível. O brilho nos olhos dos adolescentes dizia tudo: eles já tinham ouvido falar sobre o tema, mas não compreendiam. No final da palestra, muitos vieram me procurar, empolgadíssimos, dizendo “Nossa, a gente não sabia de nada disso, que legal!”.


Essa experiência também me trouxe uma reflexão importante sobre a Geração Z. Muitas pessoas pensam que esses jovens sabem de tudo, por estarem conectados à internet desde cedo, mas isso não é totalmente verdade. Eles têm acesso a muita informação, mas grande parte desse conteúdo é de baixa qualidade, desatualizado ou distorcido, muitas vezes reforçado pelos algoritmos das redes sociais. Estar hiper conectado não significa estar bem-informado.


Ter a oportunidade de levar conteúdo de qualidade para dentro de uma escola pública, sobre um tema que eu amo, como voluntária, sem receber qualquer remuneração da instituição, foi extremamente gratificante. Essa experiência reforçou para mim a importância de oferecer conhecimento de forma clara, relevante e ética para os jovens, ajudando-os a interpretar melhor o mundo ao seu redor e as transformações que vivemos.


Nos últimos tempos, também tenho sido convidada para falar com jovens em outros contextos, como palestras em sinagogas para a minha comunidade judaica. Percebi que gosto muito de conversar com jovens, compartilhar experiências e despertar curiosidade sobre temas complexos. É um trabalho que quero continuar desenvolvendo. Precisamos ter consciência de que, apesar de hiperconectados, muitos adolescentes da Geração Z não têm acesso a informações de boa qualidade, e iniciativas educativas bem estruturadas são essenciais para preencher essa lacuna.


5. Qual sua maior conquista?

Publicar meu primeiro romance, “Ela, sua gata e Tel Aviv”, é sem dúvida a minha maior conquista até aqui. Este livro representa não apenas um sonho pessoal realizado, mas também um compromisso com temas que considero urgentes.


A obra, que abre uma trilogia, traz uma narrativa leve e acessível, mas, ao mesmo tempo, levanta debates importantes sobre diversidade, sustentabilidade na moda, representatividade e direitos humanos. Para mim, ele é relevante porque contribui com reflexões em torno de grandes problemas da atualidade, como o antissemitismo.


Um dos pilares do antissemitismo são os estereótipos: a ideia equivocada de que todos os judeus são iguais. No livro, mostro justamente o contrário, que o judaísmo é diverso, plural, presente em todos os continentes, com diferentes histórias, culturas e fenótipos. Reforçar essa diversidade é uma forma de combater preconceitos e de humanizar um povo que muitas vezes é reduzido a caricaturas.


Portanto, esta conquista vai além da publicação de um livro: é também uma contribuição, ainda que pequena, para ampliar diálogos sobre identidade, combater o racismo contra judeus e abrir espaço para diferentes formas de ser mulher no mundo contemporâneo.


6. Livro, filme e mulher que admira:

Como mulher filantropa, acredito que é essencial reconhecer e celebrar outras mulheres que, com dedicação e visão, transformam a realidade ao seu redor. Gostaria de destacar duas mulheres cuja trajetória me inspira profundamente: Miriam Wasserman e Ester Lustig.


Miriam Wasserman é uma referência de liderança e comprometimento com a comunidade judaica. Atualmente, ela ocupa o cargo de vice-presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (FISESP), onde desempenha um papel fundamental na promoção da cultura judaica e na integração de valores sociais. Além disso, Miriam fundou a União do Judaísmo Reformista da América Latina (UJR-AmLat), a primeira entidade judaica na América Latina dedicada ao judaísmo reformista. Por meio dessa iniciativa, ela contribuiu significativamente para a disseminação do judaísmo reformista no continente latino-americano, promovendo a formação de rabinos, estabelecendo espaços de discussão e apoiando a criação de sinagogas alinhadas a essa vertente religiosa.


Outro projeto de destaque é o ELF (Empoderamento e Liderança Feminina), coordenado por Miriam Wasserman, que visa fortalecer a presença e a liderança feminina dentro da comunidade judaica de São Paulo, promovendo a igualdade de gênero e o combate à violência doméstica.


Ester Lustig, por sua vez, é uma liderança feminina da comunidade judaica ortodoxa e fundadora do Projeto Chaguim, uma iniciativa que criou um banco de alimentos para apoiar famílias judias em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar. Por meio do projeto, essas famílias têm acesso a alimentos saudáveis, como frutas, verduras e outros itens essenciais, especialmente durante as grandes celebrações do calendário judaico. Essa ação não só garante a segurança alimentar dessas famílias, mas também reforça os laços comunitários e a solidariedade entre os membros da comunidade judaica.


O trabalho de Miriam e Ester é um exemplo claro de como a filantropia, quando alinhada a valores sólidos e a um propósito claro, pode gerar impactos positivos e duradouros na sociedade. Elas demonstram que a verdadeira liderança está em servir ao próximo, em promover a justiça social e em construir pontes que conectem as pessoas em torno de objetivos comuns.


Veja bem: estou dando o exemplo de uma mulher judia reformista e de uma mulher judia ortodoxa. Isso demonstra a riqueza e a diversidade do mundo judaico. Tenho muito orgulho de dizer que conheço ambas, sou amiga de ambas e sou uma grande admiradora do trabalho de ambas.

 
 

Sobre Elas: Histórias que Inspiram Mudança

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